Quando Fernando Haddad, ministro da Fazenda comentou que o governo manteria os compromissos fiscais apesar da derrota na Câmara, o Ibovespa fechou em baixa de 0,31% nesta quinta‑feira, 9 de outubro de 2025, aos 141.708,19 pontos. A pressão veio das ações da Petrobras, que recuaram mais de 2%, e da cotação do dólar subindo 0,51% para R$ 5,37. O cenário externo, ainda, trazia a atenção de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, cujas próximas decisões poderiam mudar o ritmo da política monetária global.
Contexto político‑fiscal e a derrota da MP 1303
A queda do índice aconteceu logo após a Câmara dos Deputados aprovar, em 8 de outubro, um requerimento que retirou de pauta a Medida Provisória 1303 (MP 1303), proposta que buscava tributar aplicações financeiras para equilibrar as contas públicas em 2026. A medida, defendida pelo governo como necessária para cumprir a meta de déficit fiscal, encontrou resistência de bancários e de parte do congresso que temia impactos sobre o crédito e a poupança.
Mesmo com a derrota, Haddad afirmou que o Executivo não abrirá mão dos objetivos sociais e fiscais, sinalizando que o Bank of Brazil International (BBI) já avalia novas estratégias de arrecadação ou cortes de gastos. Segundo analistas do BBI, o mercado agora foca nas alternativas que o governo apresentará nas próximas semanas, principalmente antes da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) marcada para 21‑22 de outubro.
Desempenho do Ibovespa e principais ações do dia
O Fechamento do IbovespaSão Paulo começou otimista, com o índice ultrapassando a marca dos 142.800 pontos nos primeiros minutos, impulsionado por indicadores inflacionários brasileiros abaixo das expectativas (IPCA). Porém, a confiança evaporou quando as petroleiras, lideradas pela Petrobras, reagiram a notícias de notícias de possíveis revisões nos preços de combustíveis.
Entre os papéis que mais caíram, destacou‑se a Brava (BRAV3), que recuou 5,09%. Por outro lado, a WEG (WEGE3) brilhou com alta de 4,79%, refletindo otimismo no setor de equipamentos industriais. Um movimento inesperado veio da aviação: a Azul Linhas Aéreas (AZUL4) subiu 17% ao anunciar o fim da negociação de fusão com a Gol, que também registrou alta de 5%.

Reação do mercado externo e o papel do dólar
Enquanto o índice brasileiro perdia terreno, os principais índices dos EUA mostraram recuo discreto: o S&P 500 fechou em queda de 0,28% (6.735,11 pontos) e o Nasdaq recuou 0,08% (23.024,63 pontos). Mesmo com a notícia do fim da guerra no Oriente Médio, os investidores ainda permaneciam cautelosos, aguardando os discursos de Powell sobre inflação versus proteção ao mercado de trabalho.
O dólar comercial ficou em R$ 5,37, pressionando ainda mais os resultados das exportadoras e dos setores que dependem de insumos importados. Em outubro, o real tem se depreciado gradualmente, refletindo a combinação de incertezas políticas internas e a expectativa de um aperto monetário nos EUA.
Perspectivas e próximos passos para a economia brasileira
- Reunião do COPOM em 21‑22 de outubro: expectativa de manutenção da taxa Selic em 13,75% ou pequeno ajuste.
- Possíveis medidas fiscais: novos mecanismos de arrecadação, corte de gastos operacionais ou revisão de benefícios fiscais.
- Impacto da MP 1303 retirada: aumento da volatilidade nas ações de bancos e corretoras nos próximos dias.
- Monitoramento do dólar: níveis acima de R$ 5,40 podem pressionar ainda mais a inflação importada.
Especialistas do BBI alertam que, se o governo não apresentar um plano sólido até o fim de outubro, a confiança dos investidores pode deteriorar, provocando maior saída de capital e pressão sobre o Ibovespa nos demais meses do trimestre.

Análise de especialistas e opinião de mercado
De acordo com a economista-chefe da XP Investimentos, Ana Lúcia Pereira, "a combinação de incerteza fiscal interna e a política monetária dos EUA cria um cenário de alta volatilidade que favorece ativos seguros, como ouro e títulos do tesouro americano, em detrimento das ações de risco no Brasil".
Já o analista de energia da Bloomberg Linea, Carlos Mendes, ressalta que "a queda da Petrobras pode ser temporária, pois o preço do barril de petróleo está em tendência de alta após a retomada da produção em alguns campos offshore".
Para os investidores de varejo, a mensagem é clara: acompanhar de perto os desdobramentos políticos e a agenda do Banco Central será fundamental para decidir entre permanecer em posições de renda variável ou migrar para instrumentos de renda fixa mais conservadores.
Perguntas Frequentes
Como a queda da MP 1303 afeta os investidores?
A retirada da MP 1303 impede a implementação de um novo imposto sobre aplicações financeiras, o que levanta dúvidas sobre como o governo compensará a perda de receita. Até que haja um plano alternativo, investidores podem esperar mais volatilidade nos papéis bancários e nas ações de consumo, pois o mercado ainda busca clareza sobre a política fiscal.
Por que o dólar continua subindo apesar da queda dos índices norte‑americanos?
Mesmo com quedas modestas nos índices dos EUA, o dólar se beneficia da expectativa de que o Federal Reserve mantenha ou eleve a taxa de juros para conter a inflação. Essa perspectiva atrai capital para o ativo, elevando seu preço frente ao real, que já enfrenta pressões internas.
Quais setores devem se beneficiar se o COPOM mantiver a Selic?
Setores de consumo interno e varejo tendem a se beneficiar, pois a taxa alta desestimula o crédito, mas também protege o poder de compra dos consumidores que dependem de renda fixa. Já o setor de construção pode sofrer por custos de financiamento mais elevados.
O que esperar da Petrobras nos próximos dias?
Analistas acreditam que a ação da Petrobras pode se estabilizar se os preços internacionais do petróleo permanecerem acima de US$ 80 por barril. No entanto, qualquer mudança na política de preços domésticos ou em projetos de exploração pode gerar novos movimentos.
Qual o impacto das negociações de fusão entre Azul e Gol?
O fim da negociação trouxe alívio ao mercado de aviação, permitindo que ambas as companhias foquem em estratégias independentes. A Azul viu sua ação disparar 17% devido ao otimismo de investidores que acreditam em novos planos de expansão sem a complexidade de uma fusão.