Dia de Finados: Praça da Saudade em Manaus homenageia vítimas de epidemias do século XIX

Dia de Finados: Praça da Saudade em Manaus homenageia vítimas de epidemias do século XIX

Larissa Marques nov. 2 14

Localizada no coração da Amazônia, a cidade de Manaus abriga um espaço singular, a Praça da Saudade, que se destaca pela sua significância histórica e emotiva. Este recanto é dedicado à memória daqueles que sucumbiram às devastadoras epidemias do século XIX, especialmente durante episodios que marcaram a trajetória e conformação da cidade. No Dia de Finados, o local ganha uma relevância especial, tornando-se um ponto de convergência para aqueles que desejam prestar suas homenagens e refletir sobre a efemeridade da vida. A praça, um verdadeiro tributo às vidas perdidas, também simboliza a força e resiliência dos habitantes de Manaus perante as adversidades.

A história da Praça da Saudade remonta a um tempo em que Manaus, ainda em seus primórdios, enfrentava severos desafios sanitários. No século XIX, a cidade foi assolada por epidemias de cólera, varíola e febre amarela. Essas enfermidades, aliadas à falta de infraestrutura básica e a um crescimento populacional desenfreado devido ao boom da borracha, criaram um cenário catastrófico. A população, em grande parte imigrante, oriunda de diversas partes do Brasil e do mundo, viu-se tragicamente afetada, enfrentando perdas irreparáveis de entes queridos e o colapso de sua incipiente infraestrutura urbana.

Nesse contexto de dor e perda, surgiu a necessidade de se criar um espaço que pudesse proteger a memória daqueles que partiram. Assim nasceu a Praça da Saudade, concebida não apenas como uma área verde, mas como um memorial vivo. O lugar foi pensado para encapsular a dor, a resistência e, sobretudo, a força comunitária. No Dia de Finados, esse sentimento de luto coletivo ressurge, impulsionando reflexões sobre a importância da memória histórica e cultural para a evolução da identidade local.

Além de um espaço físico, a praça representa uma lição do passado: a importância de enfrentar as limitações estruturais e epidemiológicas com inovação e união. As monumentais perdas se tornaram um catalisador para mudanças. Os desafios sanitários enfrentados então deram origem a reformas urbanas e sanitárias que impactaram não só a sobrevivência, mas a própria continuidade do desenvolvimento de Manaus. Muitas dessas melhorias foram motivadas pela necessidade de assegurar um novo futuro, livre dos horrores assistidos, proporcionando à cidade um renascimento em suas estratégias de saúde pública.

Hoje, ao caminhar pela Praça da Saudade, visitantes de todas as partes são envolvidos por um forte sentimento de reverência e contemplação. A praça, além de ponto turístico, é também um recurso educacional, promovendo a conscientização sobre as implicações sociais e históricas das epidemias do passado. As melhorias estruturais que decorreram das experiências trágicas do século XIX resultaram em um legado vital para o desenvolvimento da cidade no que tange a avanços em saúde e a melhorias na qualidade de vida dos seus habitantes.

Muitos se questionam sobre a relevância de monumentos memoriais em tempos modernos, mas para os cidadãos de Manaus, a Praça da Saudade vai além de um espaço de luto. É um testemunho da coragem e da solidariedade, algo que se reflete em cada evento e cerimônia realizada ali, fortalecendo o senso de identidade e comunidade. O respeito e cuidado para com esse espaço traduzem o acervo cultural da cidade, reforçando a conexão entre um passado doloroso e um desejo constante de renovação.

E no vibrante panorama da celebração do Dia de Finados, mais uma vez, a Praça da Saudade se destaca, integrando o ciclo da memória e das renovadas esperanças de um futuro mais promissor. Com suas árvores exuberantes e monumentos silenciosos, ela resplandece enquanto um lembrete duradouro — não apenas dos que se foram, mas da resistência das gerações atuais e futuras que continuam a trilhar seu caminho, sempre firmes diante das adversidades. Assim, a história do memorial insiste em recordar que a preservação da memória é o pilar essencial na construção de uma sociedade mais robusta e empática.

Comentários (14)
  • Joseph Etuk
    Joseph Etuk 3 nov 2024

    É só uma praça com pedra. Mas tá bonitinha na foto.
    Meu tio morreu de dengue em 2012 e ninguém fez nada.
    Essa história toda é marketing cultural.
    Na verdade, só querem que a gente pague mais IPVA.
    Eu só queria um posto de saúde funcionando.

  • Annye Rodrigues
    Annye Rodrigues 4 nov 2024

    Que lindo ver como a memória pode transformar dor em força.
    Essa praça é um abraço coletivo para quem partiu.
    Não importa o tempo que passou - o amor não se apaga.
    Que possamos honrar essas vidas todos os dias, não só no Dia de Finados.
    Essa é a verdadeira resiliência.
    ❤️

  • Mara Pedroso
    Mara Pedroso 4 nov 2024

    Claro, a praça é linda, mas e se eu te disser que as epidemias não foram ‘acidentes naturais’?
    Todo mundo fala de cólera e febre amarela, mas ninguém menciona que a Coroa Britânica sabia das condições e deixou acontecer para controlar a população indígena e os imigrantes pobres.
    Isso foi um genocídio sanitário disfarçado de ‘progresso’.
    E agora eles transformam isso em ‘turismo emocional’?
    Isso é a mesma lógica do museu do Holocausto virando selfie spot.
    Se você não tá indignado, tá sendo manipulado.
    Estude a história da borracha, não só os monumentos.
    As elites sempre usam o sofrimento para construir seu legado.
    Essa praça? É um monumento ao silêncio.
    Eu não vou chorar nela.
    Vou protestar.
    - Mara Pedroso, historiadora da resistência oculta

  • Wagner Langer
    Wagner Langer 5 nov 2024

    É interessante... mas vocês já pararam para pensar que talvez os mortos não queriam ser lembrados assim?
    Essa praça... é um monumento à culpa coletiva.
    Um ritual de autoabsolvição.
    Quem construiu isso? Quem financiou?
    Quem se beneficiou com a morte de milhares?
    Essa ‘resiliência’ que vocês tanto falam... será que não é só uma fachada para esconder que nada mudou?
    Hoje, Manaus tem mais mortes por negligência do que em 1880.
    As mesmas ruas, os mesmos hospitais vazios, os mesmos políticos.
    Essa praça é um espelho quebrado.
    Reflete o que queremos ver.
    Não o que é.
    - Wagner Langer, filósofo da desilusão

  • Cleyton Keller
    Cleyton Keller 6 nov 2024

    Ao refletir sobre a Praça da Saudade, é impossível não considerar a fenomenologia da dor coletiva como um arcabouço hermenêutico da identidade amazônica.
    Essa não é apenas uma memória espacial - é uma epistemologia do luto.
    As epidemias do século XIX operaram como um ‘apagamento ontológico’ da subjetividade popular, forçando uma reconfiguração do corpo social através da dor.
    Hoje, a praça se configura como um ‘lugar de não-lugar’ - um híbrido entre o memorial e o esquecimento institucionalizado.
    É aí que reside a verdadeira tragédia: não a morte, mas a instrumentalização da memória.
    Quem controla o luto, controla o futuro.
    - Cleyton Keller, pós-doutor em filosofia da memória

  • jhones mendes silva costa
    jhones mendes silva costa 8 nov 2024

    É inspirador ver como a comunidade transformou um momento de grande dor em algo que educa e une.
    Parabéns a todos que cuidam desse espaço.
    Memória é o primeiro passo para a cura.
    Se cada cidade tivesse um lugar assim, o mundo seria mais humano.
    Continue assim.
    🌟

  • Guilherme Barbosa
    Guilherme Barbosa 8 nov 2024

    Essa história toda é linda... até você olhar os números.
    Em 1880, 40% da população de Manaus morreu.
    Hoje, 30% da população vive abaixo da linha da pobreza.
    As mesmas ruas, os mesmos hospitais, os mesmos políticos.
    Essa praça não é um memorial.
    É um disfarce.
    Um espetáculo de luto para distrair da negligência atual.
    Quem se importa com o passado quando o presente está queimando?
    - Guilherme Barbosa, crítico da farsa

  • Victor Degan
    Victor Degan 9 nov 2024

    Eu fui na praça no ano passado, no Dia de Finados, e vi um cara velho colocando uma flor em cada pedra.
    Ele não falou nada.
    Só chorou.
    Depois, me deu um abraço.
    Eu não sabia quem era ele.
    Ele não me contou quem perdeu.
    Mas eu senti.
    Isso é mais verdadeiro que qualquer discurso.
    Isso é Manaus.
    Esse é o real legado.
    - Victor Degan

  • Fabrício Cavalcante Mota
    Fabrício Cavalcante Mota 9 nov 2024

    Isso aqui é uma vergonha.
    Uma praça para estrangeiros que morreram de doença?
    Quem cuida da nossa gente hoje?
    Nosso povo morre de fome, de balas, de negligência.
    Eles fazem monumento pra quem morreu de cólera?
    Essa é a nossa história?
    Essa é a nossa identidade?
    Se fosse um herói da pátria, eu entendia.
    Mas isso? É uma vergonha nacional.
    - Fabrício Cavalcante Mota

  • Paula Beatriz Pereira da Rosa
    Paula Beatriz Pereira da Rosa 11 nov 2024

    Eu passei por lá ontem.
    Chovia.
    Ninguém.
    As flores estavam murchas.
    As placas com nomes estavam com mofo.
    - Paula

  • Dárcy Oliveira
    Dárcy Oliveira 11 nov 2024

    Se vocês acham que isso é só sobre passado, estão errados.
    Essa praça é um alerta.
    Quando o governo ignora a saúde, as pessoas morrem.
    Quando a gente esquece, os erros voltam.
    Essa não é história.
    É aviso.
    - Dárcy Oliveira

  • Leandro Eduardo Moreira Junior
    Leandro Eduardo Moreira Junior 12 nov 2024

    Com base em dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em conjunto com os registros paroquiais da Diocese de Manaus e as atas da Câmara Municipal de 1872 a 1890, é possível inferir que a taxa de mortalidade por febre amarela, na verdade, foi subestimada em 47% devido à inexistência de sistemas de notificação compulsória, o que invalida as narrativas contemporâneas que romantizam a resiliência comunitária, uma vez que a estrutura social da época era estritamente hierárquica e excludente, reforçando o colonialismo interno.
    Portanto, a Praça da Saudade, longe de ser um símbolo de unidade, é um artefato ideológico da memória seletiva, instrumentalizada pelo discurso neoliberal de ‘supereração’ para ocultar a responsabilidade estrutural do Estado imperial.
    - Leandro Eduardo Moreira Junior, PhD em História Colonial e Memória

  • diana cunha
    diana cunha 12 nov 2024

    Meu avô morreu de cólera em 1887.
    Ele era pescador.
    Ninguém anotou o nome dele.
    Na praça, só tem pedra com nome de comerciante.
    - Diana

  • Aline Borges
    Aline Borges 14 nov 2024

    Oh meu Deus, essa praça é linda, mas sério? Vocês acham que isso é suficiente?
    Quem cuida das árvores? Quem limpa os banheiros? Quem paga os guardas?
    Essa cidade tem 12 hospitais fechados e uma praça que parece saída de um catálogo de turismo.
    Isso é um insulto.
    É como colocar um laço em um tumor.
    Eu não quero mais monumentos.
    Quero médico.
    Quero água potável.
    Quero um sistema de saúde que não seja um filme de terror.
    Se vocês estão aqui para chorar, vão chorar em casa.
    Se querem homenagear, façam algo que não custe nada além de coragem.
    - Aline Borges, que já perdeu três parentes por falta de oxigênio

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