Fibromialgia: invisibilidade e luta por direitos em debate no Recife
Nem sempre dor crônica é compreendida. Quem enfrenta a fibromialgia sabe disso na pele – ou melhor, no corpo e na rotina. Uma audiência pública realizada em 12 de maio de 2025, no Recife, escancarou esse cenário: desinformação, falta de reconhecimento formal e obstáculos que vão além da saúde. O encontro reuniu pacientes, autoridades, médicos e familiares para expor dores e cobrar soluções concretas do poder público.
Liana Cirne, vereadora e uma das principais vozes no evento, resumiu o drama vivido por quem procura alívio e, às vezes, encontra desdém. "Chega de dizerem que é doença imaginária. A falta de preparo de alguns profissionais só piora o quadro de quem precisa de acolhimento e respeito", declarou. O depoimento de pacientes deixou claro que a falta de reconhecimento nos hospitais gera um ciclo de sofrimento: consultas sem diagnóstico preciso, tratamento errado e até constrangimento durante atendimento.
- Desinformação entre profissionais de saúde dificulta diagnóstico e agrava sintomas;
- Falta de centros especializados compromete o acesso ao tratamento adequado;
- Pacientes relatam preconceito e descrédito ao buscarem ajuda médica.
Reconhecer fibromialgia como deficiência: urgência no papel e na prática
Patrícia Rocha, presidente da Associação de Fibromialgia de Pernambuco, não poupou críticas ao descaso institucional. Ela destacou que 19 estados brasileiros já tratam oficialmente a fibromialgia como deficiência (PcD), mas Pernambuco ainda não entrou na lista. Esse reconhecimento muda tudo: garante prioridade em filas, acesso a benefícios e vagas reservadas no mercado de trabalho. Para quem precisa fazer fisioterapia, consultas regulares e uso de transportes públicos, ser PcD não é privilégio – é uma ferramenta de sobrevivência.
Outro ponto forte da audiência foi o apelo por centros de referência com equipes multidisciplinares. Psicólogos, fisioterapeutas, médicos reumatologistas e até assistência social integrados – tudo para tratar a dor crônica de um jeito humano. Os relatos também reforçaram a urgência de políticas públicas que ampliem o acesso a transporte adaptado, já que muitos pacientes não conseguem chegar às consultas por falta de acessibilidade.
- Associação cobra Pernambuco para reconhecer fibromialgia como PcD;
- Pacientes enfrentam taxas altíssimas de desemprego por limitações físicas e preconceito;
- Questões como transporte adaptado e gratuidade no atendimento ainda são obstáculos para os portadores.
Um dado citado durante o encontro chama atenção: segundo levantamento feito pela associação local, mais da metade das pessoas com fibromialgia em Recife está fora do mercado de trabalho – seja por dor incapacitante, seja pela falta de compreensão dos empregadores. O cenário só reforça a necessidade de um olhar atento do Estado para garantir dignidade e oportunidade a todos os cidadãos, independente da condição de saúde.